31 de julho de 2009

São Lázaro

Hoje é sexta-feira, o branco me veste e preciso ir à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, vugo São Lázaro, efetuar minha matricula. Daqui a pouco estarei no casarão, onde as ciências sociais me tomaram em cheio. Toda vez que piso ali, acesso o que seus ensinamentos certo dia me causaram: o desconforto mental.

30 de julho de 2009

Chego a pensar que Deus inventou dia e noite, somente para que houvesse pôr-do-sol. Adoro a cor do fim da tarde


Ai, como gosto do Sertão...


Intimidade de Shakespeare e Victor Hugo

Ontem, assisti ao filme "Intimidade de Shakespeare e Victor Hugo", de Yulene Olaizola. Trata-se de uma produção mexicana que se movimenta em torno da casa de hóspedes de Rosa, avó de Yulene. Vemos uma casa que respira histórias, esbanja acontecimentos e se mostra rica em tudo que a compõe. Suas paredes, seus objetos, seus moradores e moradoras são portadores de mensagens altamente significativas. É como se o mundo ali dentro engolisse o mundo de fora, fosse maior que a própria Cidade do México, onde está situada a explorada casa, exatamente na esquina das ruas Shakespeare e Victor Hugo.

O conteúdo da casa é abundante, e inunda; nos absorve a cada novo caso que é contado, de modo que eu, estando na platéia, me senti um pouco engolida pelo filme. Sim, é como se tudo que foi dito sobre Jorge Riosse, homem complexo que viveu por oito anos na abastecida casa, me tomasse dizendo o quanto o humano é por demais fascinante. "Humano, demasiadamente humano", escreveu um dia Nietzsche, e eu ali, naquela cadeira do teatro, acessando o humano por meio do cinema. Voltarei a ler Nietzsche? Talvez.

Jorge, sob o olhar da avó de Yulene, era um cara afetuoso, criativo, que aprendeu sozinho a pintar, tocar violão, falar e escrever inglês e francês. Sem dúvidas, Jorge era uma criatura marcante, e, focada em suas estranhezas, a película se desenrola na perspectiva de anunciar o quão intrigante era o seu mundo, até revelá-lo como um assassino de mulheres, sendo inclusive bastante procurado pela polícia mexicana. As cenas se sequenciavam em minha frente, e eu ia deixando que a narrativa sobre a vida do misterioso Jorge me contasse mais sobre o humano, sobre o modo de ser num mundo em que nada está dado.

Nessa minha entrega para o que a película expõe, percebi a fantástica forma como Rosa, que é uma das pessoas que mais falam sobre Jorge na tela, se refere à relação que manteve com ele. Ela diz: "ninguém entenderia a relação que nós tínhamos". E eu pensei: como existem tantas relações que não se explicam, meu Deus! Conheço algumas, a saber: a da mãe que ama o filho, mas este a ignora, a do meu pai consigo mesmo, que se veste de bom e de mau ao mesmo tempo, a do homem que se fixa na neurose da mulher, e tantas outras.

A exibição foi seguindo, obedecendo seu fluxo até despejar em meu colo mais frases fortes. Num dado momento, chega aos meus ouvidos: "Aprendi a admirar nas pessoas exatamente o que eu não tenho", declara Rosa. E como ontem foi um dia em que de frases eu estava me abastecendo, quando me dei conta, vi meu arquivo pessoal acumulando mais uma pérola, esta de autoria do próprio Jorge: "Quando se ama, não se pensa; quando se pensa, não se ama; quando se pensa depois que se ama, entende-se porque amou, e quando se ama depois que se pensa, ama-se melhor".

Meu corpo e os verbos

Sinto fome. Meu estômago pede algum alimento que eu ainda não providenciei. Seguidas vezes me acontece de não saber como emprestar meu corpo para certos verbos. Hoje, é o verbo "alimentar", mas também já houve outros. Para citar alguns: recuar, crescer, fazer, desfazer, negar, afirmar, correr, gerar. Ainda não encontrei a cartilha que faz a recomendação acertada para a conjugação verbal por parte do corpo. Aliás, nem sei se quero encontrar, pois gosto de alguns desassossegos que alcanço movida pelo meu não-saber-manejar-o corpo, frente aos verbos que a língua portuguesa oferece. Esse gostar se explica por que, por não saber fazer o uso perfeito de alguns verbos, descubro meus limites, minhas desconfianças, cruzo com meus mistérios em cima da minha própria pele. Relembro um período, escapo de outro, acesso segredos sem respostas. Vago na beleza de me saber um corpo que busca correspondência com a palavra. E isso é maravilhosamente saboroso.

27 de julho de 2009

Curtinha

Não quero escorregar no sono, mas ele me vence. Eu não escapo. Adoraria precisar dormir menos.

Captação possível

Não sei quantas vezes a cidade de Feira de Santana, onde eu nasci, foi olhada por mim a partir de um dos seus pontos altos. Ontem, me peguei pensando nisso porque estive em Feira para resolver coisas do mundo de gente adulta e, em prol das resoluções, entrei num prédio que não lembro se já havia estado antes, ainda que seja um tradicional edifício da cidade. Fui à sua sacada e avistei então a cercania feirense, a partir de uma perspectiva que não me foi comum, quando vivi em uma das suas casas, situada numa das suas ruas. Vi o céu mais perto de mim, observei os telhados, as antenas de tevê, a extremidade das construções. Foi, então, que me chegou uma crença que eu ainda não sei falar muito bem sobre, mas já anuncio: desde ontem, às 14h, passei a acreditar que precisa ser obrigatório olhar "das alturas" a cidade onde nascemos. É que fará bem à nossa formação acessarmos de modo expandido o local que nos instala na vida. Talvez esteja aí a chave para aprendermos a olhar o mundo, com olhos arregalados.

Ritmada pelo estudo

Ando sumida. A vida ritmada pelos estudos e eu nem sei mais o que fazer com essa falta de tempo que quase me atormenta. A poesia me visita, mas nem sempre pode ficar. Coitada de mim, que fico menos versada, menos bagunçada. Mas, neste momento, não dá para ser diferente. Sim, gosto da bagunça que a poesia me causa e eu sei que ela está em tudo que faço. Mas, nos últimos dias ela tem disputado espaço com um sisudo texto sociológico que insiste em me fazer compreender o que significa termos um corpo que carrega história. Demais tudo que tem me aparecido na leitura de uns tais autores que versam sobre a relação entre determinismo e liberdade, com a intenção de problematizar como se tece o princípio de uma ação, e isso sugere perguntas como: por que agimos assim e não assado? Por que usamos um tipo de roupa e não outra? Pois é, estou tomada pelas letras de um estudioso que se lança no conhecimento e nos convida a deixar o pensamento se irrigar com inquietudes.

22 de julho de 2009

Poesia bem pertinho

A Fundação Casa de Jorge Amado, no próximo dia 31 (sexta-feira), vai abrigar os dizedores e as dizedoras de versos da Escola Lucinda de Poesia Viva, que tem a poeta Elisa Lucinda como estrela criadora. Faço parte da escola, e toda a última sexta-feira do mês, nós, participantes da escola, realizamos um recital na Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho. Este, que já está bem pertinho de acontecer, chama-se "Canto quase gregoriano", e é uma reunião de pérolas de poetas baianos que escolhemos com muito carinho para saudarmos a Bahia, ainda no ritmo dos festejos de 2 de Julho. Estamos cuidando de cada versinho para fazermos uma noite bonita e encantadora. Será maravilhoso compartilhar deste momento tão especial com vocês. Apareçam e se lancem no que a poesia tem a realizar conosco.

Noite que chega

Os dias desaparecem como vento que sai de balão de aniversário em mão de criança curiosa, que gosta de encher e desencher o balão, somente para rir da rapidez com que algumas coisas mudam de formato. As minhas horas se transformam em segundos numa velocidade que eu não acompanho. Elas somem e nem sempre cumpro o que combino com meu calendário pessoal.

21 de julho de 2009

Óleo

O óleo perfuma sua pele. Meu nariz se diverte com o cheiro mais apurado da Amazônia que, após o banho, passou a lhe revestir. Somada a seu suor, a fragrância poderá me fazer alcançar o aroma da terra masculina. Silenciosamente, vou me desligar do imediatismo no qual estou agora, colocarei substância nova nos pés e adentrarei o que é delicioso.

Alfinete

Alfinetei o ar, e nada explodiu.
Que bom!

Acordei

Acordei tendo um blog meu. Lavei o cabelo, mas não ritualizei nada. A fome está diferente da de ontem. Aguardo meu namorado para o café da manhã, e ele está em contato com o atraso que o trânsito causa. Por isso, vou atrasar o relógio da cozinha para colher o sol que brilhou mais cedinho. Escuto Chico Buarque, e tenho uma pilha de textos para ler. Vivo desse jeito, tendo o que fazer, mas sem tempo para tudo que me ocorre. Ai, lá vem eu falando novamente de tempo. Vou parar. Apareci somente para falar da minha primeira manhã sendo autora de blog. Ui, noto que ainda não houve muitas distinções em relação as que eu tinha quando não era.

20 de julho de 2009

Começo

A mala não parece pesada, nem mesmo receio que um dia pese. Simplesmente deixo muita coisa entrar em minha bagagem. Até aqui fiz assim. Talvez porque sai de dentro de uma mulher que confia em todo mundo e carrega coração ritmado para o bem. O homem que a fecundou, para que eu nascesse, peitou por muitos anos a estrada. Era caminhoneiro quando se tornou meu pai. Então, ao ser filha de mulher de alma reluzente e de homem que teve as viagens como companheiras, resta-me ser dada ao que a vida se propõe a fazer comigo. É madrugada, e de repente voltei ao começo de mim. Por que será? Talvez porque seja minha primeira aparição em terra virtual como portadora de um espaço. E será que estarei colocando mais um útero na internet? Ainda não sei, mas sei que carrego útero que espera gente, depois de tanto se dar para a gestação de palavras. Escrevo tudo isso para dizer que estou começando, hoje, dia 21 de julho de 2009, a inserir-me em um lugar para o qual já fui muitas vezes convidada. Refiro-me ao universo dos blogs, onde acredito que serei acolhida com lírios. Não sei se é tarde para dar início a este pertencimento, até porque não me interessa avaliar o que é cedo ou tarde nesta vida. Persisto na crença de que tudo vem no tempo devido, assim como as safras que brotam da terra, depois que calmamente é fertilizada pelas mãos dos agricultores e das agricultoras. Ando perturbada com a forma como eu uso o tempo, por isso, recorro às imagens onde o relógio respira de um jeito particular, pois sabe que ciclos existem e são maiores do que ele. Estou querendo me acertar com o Senhor, Senhor tempo. Ajude-me. Sou corpo onde o atestado de vossa passagem não precisa fazer cerimônia. Entreguei-me por inteiro à conversa da pele com Vossa Excelência.