31 de outubro de 2009

Um papo com o cansaço

Não, que nada, não venha pra cá corroer meu lirismo. Você não me oportuniza o sorriso. Para que eu preciso do sorriso? Para alimentar o mundo do que ele está necessitando, ou seja, de uma suavidade que duele com o atropelamento das emoções. Sim, o mundo me escreveu uma carta. Deu de me pedir que não seja mais uma a cumprir os mesmos ritos que esvaziam relações e solidificam corações. Ui, que responsa a minha, pensei. Mas, guardei a carta na caixa preciosa e me pus a tentar cumprir o seu apelo. Depois que li a correspondência, quis sentir o gosto de uma fruta suculenta, quis também ver um quintal cheio de roupas coloridas, andar na areia da praia e contemplar, contemplar, contemplar, tendo como sobremesa brigadeiro de colher. Sei que para sobreviver é necessário correr atrás, fazer, construir, dar conta disso e também daquilo e também daquilo mais, mas, por favor, não leve meu gingado de menina-mulher que gosta de ler a escritura do mundo.

28 de outubro de 2009

Refazendo-me

Não é somente minha flora intestinal que precisa ser recomposta. Por isso, se houver yakute para refazer a prosa e a poesia que existem em mim, eu também vou ingerir, pois, se os médicos prescreveram um antibiótico para combater a bactéria que me visitou, e recomendaram rigorosos cuidados alimentares, minha vida está me pedindo uma profunda atenção. Há tempos venho sentido-me longe de mim, sem conseguir tratar comigo os assuntos que me são tão valiosos. Imersa numa rodada de afazeres que não cessa, fui ficando sem encaixe com aquilo que me é mais precioso: a escrita sensível. Uma sensação de despertencimento foi me chegando, eu acumulei emoção sem transformá-la em palavras e, quando procurei, a superficialidade estava querendo se instalar. Ôps, não vou deixar.

22 de outubro de 2009

Ui...

Eu estava fragmentada e sem tempo. Eu me sabia cansada, mas ainda assim insisti. Fui, mesmo ciente de que não seria fácil me conectar. Sem traquejo para me dar limites, me propus a acompanhar, e aquilo, que pensei que iria me salvar, me deixou mais pra baixo, me fez receosa e presa ao que, por enquanto, desconheço. Agora, devo-me algumas reflexões. Vou fazê-las com muita calma. A poesia merece isso de mim.

14 de outubro de 2009

Só hoje

Hoje, não. Não, não quero. Não quero aventuras, não estou a fim de me colar na beira da busca incerta, estou cansada e quero sossego. Necessito de caminhos curtos e providências que não dêem margem a surpresas. Não, não quero ter que dar conta de nada diferente do que já estou acostumada a fazer. Hoje, quero a repetição e lhe peço: não me julgue por esta escolha. Tenho este direito. O direito de repetir, de vibrar intimamente com a rotina mais banal do cotidiano que traço todos os dias como fruto do meu jeito de me colocar no mundo. Ei, moço, permita que eu me reserve para a exatidão, pra aquela exatidão que não fere ninguém e que é tão bem-vinda quando estamos pesados porque frustrações e perdas nos chegaram. Isso! Deixe-me não querer ser aventureira, não me lançar, não me arremessar, nem muito menos me arriscar. Preciso de respostas que eu sei onde posso encontrar. É só hoje. Amanhã, prometo estar, de novo, nos braços da possibilidade, que eu - lhe digo -, não sei para aonde vão me levar, e exatamente por isso é que eu seguirei envolvida neles.

13 de outubro de 2009

Débito

Devo um texto de alegria. O débito foi contraído sábado, dia 3 de outubro, em Feira de Santana, na Estação da Música, onde o verde tomou conta da noite. Razão do débito: formatura em farmácia de minha única irmã que ainda não havia concluído a universidade. Por mais que eu queira transmitir o tamanho do débito, penso que não vou conseguir. Isso porque o texto que tem que ser escrito precisa comunicar o que, talvez, somente uma roda de samba tem competência para fazer. É que a formanda-formada era uma exuberância tão gigante de felicidade, que parece que não há tradução que alcance o patamar do seu esplendor. Fica a impressão de que a escrita não tem como semantizar o seu sorriso. Bom, mas ainda tenho fé que vou ter condição de escrever alguma coisa a partir das emoções que ela causou em todos os seus convidados. Contudo, enquanto preparo algo para falar, enquanto o texto não nasce em mim, vou reunindo as sensações que tive durante a festa para que elas me mostrem palavras, e ao mesmo tempo vou procurar alguns compositores de samba para que façam um samba-enredo e dediquem para a senhorita Cláudia Maria de Oliveira Carneiro, rainha da plenitude.