Henri Philippe Pétain, militar que ganhou
notoriedade na Primeira Guerra Mundial, pois se atribui à sua atuação a vitória
da França sobre a Alemanha na Batalha de Verdun, foi convidado a integrar o
governo francês em maio de 1940. Neste período, a Segunda Guerra Mundial já
havia sido deflagrada e fazia poucos dias que as forças alemãs comandadas por
Hitler tinham invadido a república francesa.
Não foi preciso muito
tempo para que o marechal Pétain, uma vez fazendo parte da estrutura de governo,
saísse da condição de Chefe de Combate para a de Chefe do Conselho, e desta
para a de Primeiro Ministro, o que aconteceu na noite do dia 16 de junho, quando
o então chefe de Estado, Paul Reynaud, por discordar da condução passiva que o
poder francês vinha assumindo frente à invasão dos alemães, tornou público o
seu pedido de desligamento.
Substituição feita, no primeiro
dia após a sua nomeação, dia 17, Pétain anunciou um armistício cuja assinatura
aconteceria já no dia 22 seguinte, no mesmo vagão de trem, na cidade francesa
de Compiègne, onde o general francês Ferdinand
Foch havia definido na Primeira Guerra Mundial os moldes da rendição alemã. A escolha do mesmo lugar para a
celebração do cessar-fogo foi uma exigência de Hitler, que fez questão de se
sentar na mesma cadeira que antes havia sido ocupada
por Foch.
Através do Segundo Armistício de Compiègne,
estavam então confirmadas todas as condições para que a Terceira República, que
vigorava em território francês na época, fosse dividida em Zone ocupée (Zona Ocupada), ao norte, e Zone libre (Zona Livre), ao sul, através daquela que ficou
conhecida como Ligne de démarcation (Linha
de Demarcação) e impôs uma severa fronteira interna no país. A separação ainda
estabeleceu uma área administrativa que tomou como base a região Alsace-Lorraine.
A Zone ocupée ficou sob a orientação dos códigos do III Reich, e a Zone libre, conhecida como La France de Vichy – Vichy é uma cidade
do sudeste francês onde, após o Armistício, passou a funcionar a sede do
governo –, teve uma gestão administrativa que somente na fachada era francesa,
pois não deixou de ser interferida pelos alemães, de modo que hoje se fala da
França de Vichy como tendo sido um regime, também, subjugado aos rigores da Ocupação.
Acervo Musée de la Résistance Nationale
Mapa da França após a Ocupação |
O
chamado de De Gaulle
A cessão ao domínio
alemão foi avaliada como impertinente e absurda por parte do general De Gaulle,
antigo Secretário-Geral do Estado no governo de Reynauld, e que ao saber que um
armistício tinha sido anunciado foi imediatamente a Londres solicitar aos
britânicos apoio para que a França permanecesse lutando. O general entendia que
“o enfrentamento aos alemães tinha que ser feito, que a guerra estava só
começando e que a França não estava sozinha”.
Foi então que munido deste
ideal, De Gaulle no dia 18 de junho de 1940 se dirigiu aos estúdios da Rádio
BBC e, por meio de uma emissão radiofônica, convocou os franceses a fugirem da servidão, continuarem a luta e a
não se renderem às forças alemãs, “pois a pátria estava em perigo e era preciso
salvá-la”.
Acervo Musée de la Résistance Nationale
Chamado de Gaulle do dia 18 de junho |
Composição
de forças
Novos apelos seguiram ao
do dia 18, de modo que a partir de Londres, De Gaulle, que esteve muito próximo
de Churchill, suscitou no povo francês a necessidade de fazer frente ao nazismo
e estruturar um movimento, que além de reagir à ocupação alemã, precisava se opor
ao governo vigente, pois, em sua perspectiva, Pétain ao ter optado pelo
armistício estava a condenar o espírito republicano.
E foi a esse combate político-militar,
dotado de teor patriótico e contornos revolucionários, constituído por homens e
mulheres contrários à ação de Pétain e à consequente conversão da França num
país colaboracionista, que foi dado o nome de “Resistência Francesa”. O movimento
ficou conhecido como “A Resistência” e aconteceu entre 1940 e 1944.
Sua elaboração, no
entanto, não foi imediata. As adesões aos seus propósitos aconteceram de forma
isolada e, quando seus ideais se multiplicaram em território francês, houve um
considerável período de discordância entre os diferentes segmentos que se
sentiram mobilizados pelas convocações feitas por De Gaulle, de modo que o consenso
só emergiu após uma construção lenta e que exigiu, entre outras ações, a
revisão do papel dos partidos e dos sindicatos, uma vez que estes foram
dissolvidos quando a França capitulou.
Acervo Musée de la Résistance Nationale
General Charles De Gaulle |
“No que diz respeito
aos partidos, as fragmentações mais sérias e que mais afetaram o andamento da
Resistência foram apresentadas no âmbito do Partido Comunista Francês (PCF).
Isso porque em 23 de agosto de 1939 havia sido assinado o Pacto de Não-Agressão
entre a Alemanha e a União Soviética, através do qual as duas nações prometeram
neutralidade mútua, caso uma delas viesse a ser invadida por algum outro país. Sendo
assim, diante da invasão alemã à França, o PCF apresentou reações muito
ambíguas, já que tinha um alinhamento no campo político com a URSS”, explica
Laurent Védy, neto do resistente Gilbert Médéric Védy e que se tornou estudioso
da Resistência.
Além disso, acrescenta
ele, “o PCF estava desde setembro de 1939 com suas atividades suspensas por
ordem do então chefe do governo francês, Édouard Daladier, que recorrendo a um
decreto de lei assinado no dia 26 de setembro de 1939, interditou o partido
tomando como motivação para esta atitude a invasão da Polônia pela União
Soviética, ataque este que levou a Inglaterra e a França a declararem guerra
contra a Alemanha, e assim iniciarem a Segunda Guerra Mundial”.