Entrego-me aos rituais de despedida e vou ao
mercado do bairro onde aos sábados fazia compras. Neste um ano aqui, por duas
vezes, quando eu estava no caixa para pagar o que eu havia adquirido, me dei
conta de que eu havia deixado o cartão de crédito em casa. E nas duas vezes
contei com a confiança dos funcionários. Eles registravam tudinho, enquanto eu
vinha em casa, correndo, e apanhava a carteira. Voltando, eu pagava e agradecia
alegremente pela gentileza prestada. Aí fiquei conhecida como
a-madame-que-esquece-a-carteira. Virou até graça isso. Mas, hoje, não teve
muita graça quando eu comuniquei ao segurança Joseph que eu vou voltar para o
Brasil. Ele não acreditava no que eu dizia, apertava minha mão com saudosismo e
eu lhe explicava que minha bolsa de estudos acabou. Ele então me perguntou como
eu vou viver no Brasil; quis saber se eu já tenho emprego e eu lhe disse que
ainda não. Ele apanhou seu terço no bolso e, com fé, me disse: "não tenha
medo, Sarah, vai dar tudo certo e use sua capacidade intelectual". Eu
escutei, movimentando a cabeça num prolongado sinal de SIM e sai da minha última
compra no supermercado de sempre, bastante emocionada ao ver a relação que seus
funcionários e eu construímos. Como sou grata ao elo nada impessoal que a
França e eu desenvolvemos.
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