30 de setembro de 2009

Ovo

Minha casa é uma gracinha. Nela há livros, jornais, revistas, telas, poesia, espelho em forma de flor, tapetes que costuram retalhos, brinquedos, fotos e recados. Mas, minha casa está tão destituída de mim! Tenho ficado tão pouco nela, que, quando nela estou, sinto-me distante de suas partes. Aí fica minha casa sem meu eu dentro, entende? E eu sem minha casa dentro de mim. Resultado: sou uma gema sem clara, e ela uma clara sem gema.

27 de setembro de 2009

Escrevendo para ser-me

Não me esqueci do papel em branco, não me soltei do pescoço da palavra, nem me faltou motivo para escrever. O teclado em nenhum momento deixou de estar ao alcance, a criação não me abandonou e graças a Deus as formosuras da vida não se ausentaram dos meus dias. Contudo, a correria, às vezes, come minhas iniciativas de mulher que escreve para saber mais de si mesma. Inventa de levar com ela o impulso escrevente que me acompanha, e demora para me devolver. Por isso, fico dias sem me manifestar por meio da linguagem sensível. Olha, vou contar um segredo: há momentos em que me falta chance para usar o tempo com soltura. Mas, hoje é domingo, há particularidades no ar e uma descoberta linda me ocorre: estou tocando o que desejei para mim. E é tão lindo quando o desejo se converte em ato concreto! Quando deixa de ser um desenho esfumado e ganha tom palpável e descrítivel, quando seu hiato com a realidade se desfaz e passa o desejo a ter imagem captável a olho nu, passa o desejo a usufruir do caráter de vida ao vivo e a cores. Tão gostoso sentir o desejo ganhando enchimento! Sendo preenchido com o que foi sonhado! Fantástico vê-lo acessar a categoria de coisa tátil e não somente imaginada. Maravilhoso assistir ao desejo pendurar no passado o status de desejo e se carimbar solenemente no presente com o atestado de verdade vivenciada. E viva a realidade que tem o desejo como rascunho, meu Deus!

19 de setembro de 2009

Sábado

Músicas falam da cidade maravilhosa, o sono se instala, estômago pede comida. O laço lilás e as bolinhas brancas revestem minha pele. Meus olhos têm acesso ao que de mais lindo está perto de mim neste momento. Eu contemplo, rezo e sou simplesmente feliz.

9 de setembro de 2009

Setembro que puxa outubro

Antenas ligadas, curiosidade ganhando novas camadas, corpo pedindo exercício físico, desejo crescendo, verbos gostosos saindo pela nuca e uma vontade de aprender mais e mais me tomando da hora que eu acordo à hora que vou dormir. É assim que estou me sentindo nestes dias de setembro, que antecedem outubro, este, um mês que em mim está ressignificado, já que em novembro do ano passado ganhou mais beleza, e passou a ser um mês mais masculino, mais vivo, mais maduro, mais carioca, mais grisalho. De repente, até farei uma homenagem a outubro, que é também o mês da minha irmã Cláudia, irmã delicada e serena. Outubro me é, então, forte e leve como, por vezes, se apresenta o mar para mim.