26 de julho de 2010

Escape

Gosto da minha letra em caneta azul dormindo nos papéis que ultimamente tomam conta da sala de casa. Para muitos cantos que olho vejo minha caligrafia servindo ao pensamento. Em volta de mim: telefone fora do seu lugar, chão varrido pelas mãos de quem cuida, luminária comprada sob a luz do meio da tarde; pratos na cozinha, comida, referências. Ainda hoje preciso ir mais longe, redigir novas páginas, encontrar encaixes entre os trechos dos livros dos vários autores que li. A vida de mulher que pesquisa movimento social tem forma e eu ainda não sei se caibo dentro dela. Por isso, há dias em que escapo para sentir outras necessidades.

19 de julho de 2010

O mundo e eu

Sei que o mundo é muito maior do que eu, por isso, caminho grande para alcançar seu íntimo. E, embora ciente de que a mim só chegam pedaços da sua imensidão, tenho buscado transformá-los no palco onde eu, inteira, ofereço quem eu sou: cabeça, braço, perna, bunda, buceta, seios, palavras, imagens, poemas, pensamentos, questões, delírios, negações, afirmações, gritos, exageros, defeitos, qualidades, pedidos, milagres. Ufa, sou intensa. Nada escondo, tudo mostro, tudo revelo.

Exijo-me ser plena no ato de existir, mesmo tendo a noção de que a totalidade que eu toco são recortes de mundo, fragmentos do gigante lugar onde vivemos. Mas, com um pouco de chuva aqui, um tanto de areia ali, sigo construindo castelos no meio da multidão; coloco amor como liga em cada um deles e os enfeito com luzes. Sonho, desejo, cruzo os dedos, chamo o sol, convido o bom tempo, respiro e peço a Deus que a construção não desmorone. Meu Pai, me ajude neste mundo tão cheio de caminhos!

17 de julho de 2010

Sala da casa naquela cidade


Na casa onde se fica
para esperar a procissão sair,
sala e quarto são um só.

Cama e sofá se confundem,
e, à noite, quando
o sono se encontra
com a conversa do dia,
os sonhos dos que ali vivem
são palavras se procurando.

11 de julho de 2010

A cor das casas







Ali perto, onde meninos
conversam à beira da fogueira,
o marrom do chão come
o rodapé das paredes.

Como fica a cor das casas?

Some, não.
O povo não deixa.

10 de julho de 2010

Breve relato do hoje

Difícil saber o que falar, quando as sensações se embaralham na cauda da novidade e nos deixam como adivinhadores do que está acontecendo no mundo do outro. Esta é a frase que descreve como estou agora, mas, para não ficar na imprecisão das emoções, comunico, também, que hoje carreguei sacolas de uma casa para outra, lavei o cabelo, quase perdi a voz, comprei bolo de chocolate e preparei o café, dando-me conta do quanto eu quero ajustar o pensamento que insiste em mostrar-se inquieto.

6 de julho de 2010

Cor-de-rosa e carvão


É cor-de-rosa e carvão
mulher, que no interior de Sergipe,
insiste em abrir porta.

E elas, que se sabem assim,
vestem saia estampada
para a costura de uma vida com babados.