17 de agosto de 2009

14 de agosto de 2009

Mesa de bar

A música entra pelo meu ouvido, e eu conduzo o olhar para o ponto mais distante da sala. Qualquer coisa que me ocorrer agora vai valer a pena. Sinto que retomei um senso que em mim estava quetinho. Refiro-me ao gosto que devoto às conversas de mesa de bar com amigos, quando fervorosas trocas acontecem para revelar pareceres acerca do mundo.

12 de agosto de 2009

Sou geminiana

Gente, este é o meu par de luvas no chão de Barcelona, onde eu queria ir a todos os lugares ao mesmo tempo. Não dá para desejar pouco de Barcelona. Eu estava sentada na calçada de uma rua, numa esquina animada das Ramblas, e, quando me levantei, as luvas caíram exatamente nesta posição.

11 de agosto de 2009

A natureza sabe

Nada me silencia e um dia o meu tamanho quis pertencer a quem me olha. Hoje, não deixo mais ser assim. Eu dito o comprimento que tenho. Afinal, não me deixo ser notada por nenhum sensor que busca vazios dentro de gente cheia de acontecimentos, e fujo de qualquer artifício que se preste a rebuscar o que há de humano em mim, a ponto de retirar-me da caminhada mais simples e me jogar num universo que não abraça a flexibilidade. Gosto de seguir adiante na escala das descobertas. Vivo querendo sentir o vento na face, estar numa estrada que desemboca numa paisagem lindíssima, pois não me interessa parar de escutar o chamado que apela para a vida menos ordinária. Aprendi que é válido enganchar a alça do vestido na maçaneta da porta que nos conduz para a beleza que só a natureza sabe dispor.

10 de agosto de 2009

Somente

Sou um pedido de ação. Preencha-me. Como uma ponte que leva pessoas a algum lugar, entrego-me à arte com o intuito de me transportar para o endereço do não sei. A arte é a ponte. O lugar eu descubro quando pela ponte eu passo. Talvez hoje eu venha a saber mais sobre uma dimensão minha ainda quase não tocada pela festa que você pode promover. Como se andasse na areia quente da praia, piso com cuidado no caminho que me levará para um dos meus principais anseios.

5 de agosto de 2009

Porque a casa dos meus pais está sendo pintada de amarelo-quase laranja, eu recorro à poema de Adélia Prado

Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Mal aproveitamento do tempo

Tive férias e não senti o sabor de folga. Não fui à praia, não usei biquini, nem fiz caminhadas em um calçadão qualquer. Agora, sentada à mesa do trabalho, sinto os olhos cansados, a emoção mucha e a fome por momentos deliciosos me deixa sem palavras. Preciso de um gosto temperado de festividade. De tudo que vivi nesses dias longe do batente, fica os rastros de felicidade da tarde de quinta-feira que dormi profundamente e acordei ao som de Norah Jones.

4 de agosto de 2009

No ritmo do Dia dos Pais

E se meu pai não se chamasse Luís Antônio Carneiro? E se ele não fosse filho de Linézia e Ziquinha? E se como bisavô eu não tivesse o velho Martinho da Roça do Alto? E se naquela noite, quando eu ainda era a criança que corria na varanda da casa 803 da Rua Milão e chorava porque todos os meus lápis de cor estavam com pontas quebradas, justo na hora em que eu precisava pintar o desenho recomendado como dever de casa pela professora do Colégio "O Pequeno Príncipe", ele, o homem de fala forte, não chamasse minha atenção e me mandasse parar de espernear e exigir uma caixa nova, dizendo que somente ao acabar aquela caixa eu poderia ganhar uma nova, pois muitas outras crianças da minha idade não tinham nenhum lápis, quem dirás uma caixa inteira? E se todas as vezes que ele visse as filhas arrancarem folhas limpas do caderno para fazerem "besteiras", ele não se lembrasse dos que estão na roça e não têm um pedaço de papel sequer para fazerem suas contas e registrarem os números da colheita? E se quando ele sofreu um acidente de caminhão em Candeias e voltou, graças a Deus, salvo para casa e passou alguns dias recolhido se recuperando vestido em pijamas estranhos aos meus olhos, ele não tivesse me incentivado a fazer a primeira foto da minha vida? Uma foto dele sentado no sofá de casa. E se naquele ano em que viajamos para Ilha de Itaparica, ele não tivesse confiado no adorável Sátiro, amigo da minha mãe que com ela trabalhava na Farmácia Silva e por quem eu era apaixonada e que me carregou no colo para atravessar um fiapo d'água? E se todas as vezes que íamos para o Sesc, em Salvador, ainda quando a prole era somente Débora e eu, e as lindas Cau e Juli não nos rodeavam, ele não brincasse com a superfície da água do mar, em Piatã, e com as mãos improvisasse um lindo chafariz? E se quando eu fui para a cidade de Natal no Rio Grande do Norte para vender poemas, ele ao falar comigo ao telefone não dissesse docemente: "minha filha, a gente está te esperando, viu?" Se nada disso tivesse me acontecido, eu não sentiria meu sangue ferver todas às vezes que vejo um samba de roda rolando frenético em algum canto do mundo; eu não teria desenvolvido um gosto pelos ideais esquerdistas; eu não teria crescido ouvindo Luiz Gonzaga; eu não teria dado minha mão, ainda quando eu era uma criança que não sabia escrever, para minha mãe me ajudar a fazer dedicatória em disco de vinil do Rei do Baião, que era sempre nosso presente para meu pai, que particulamente adora escutar a canção "Asa Branca". Se meu pai não fosse meu pai, eu não teria manifestado um desejo tão forte para pesquisar cultura popular, eu não carregaria uma maluquice. Se eu não fosse filha de Luís e Lourdes, eu não seria Sarah Roberta de Oliveira Carneiro, uma menina-mulher que aposta na humanidade, que busca maximizar a existência e percorrer mundos. Eu não seria uma menina querendo crescer. E por isto, por eu ser quem sou e do jeito que sou, eu quero agradecer imensamente a Deus por ter me dado o pai que tenho. Agradeço por continuarmos juntos até aqui, mesmo com quedas, tropeços, deslizes, desencontros, discussões, mas estamos, somos, seguimos, acreditamos, conversamos. E que a vida nos ajude a nos explorar, a nos aproveitar, a nos conhecer cada vez mais, para sermos um pai e uma filha com histórias, muitas histórias para contar para meus futuros filhos, seus futuros netos.

3 de agosto de 2009

Pedido para um possível gnomo

Se um gnomo aparecesse em minha casa agora, agora que a madrugada está de mãos dadas com os ponteiros, eu lhe pediria para apanhar a lua que brilha quase cheia lá fora e depositá-la em cima da minha cama. Hoje, dormiria com a lua sabendo que eu amanheceria muito mais iluminada. Tenho certeza que o sol ia adorar me receber em sua casa daqui a pouco, quando seus primeiros raios começarem a trabalhar.

"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome"


Vixe...

Vixe, me deu uma vontade de conversar coisas que acontecem dentro da gente! Lembro das rodas de bate-papo que tínhamos quando morávamos numa animada república em Aracaju. Onde está todo mundo?

Palavras com aroma


Escapulindo

Eu já estava quase indo deitar ao seu lado no sofá da sala, para vermos o Jornal Nacional. Era somente o tempo de eu ler rapidamente um e-mail que me foi enviado em caráter de urgência por pessoas do trabalho. Mas, quando me preparei para acarinhá-lo, ele se levantou e tirou o time de campo sem muita paciência. Isso talvez seja fruto da minha equação desengonçada com o tempo. Vou colher algumas horas no jardim da minha casa para ver se isso se resolve em mim. Fui, as flores estão me chamando.

2 de agosto de 2009

Corrente: dê uma caneta

Aquele homem de cabelo crescido me fala de assuntos do coração no foyer do teatro. Eu lhe dou toda atenção do mundo porque sou profundamente interessada neste assunto. Em meio à conversa, Nelson lhe empresta uma caneta, pois aquele homem precisou fazer anotações num papel. De posse da caneta azul, ele escreve e diz ter adorado a letra que ela lhe fez ter. Demos então a caneta de presente. Contudo, impusemos uma condição, dizendo: "querido, esta caneta só será sua, se você usá-la para escrever carta de amor para sua namorada que mora em Curitiba". Ele prometeu cumprir. Então, só nos resta desejar que canetas azuis, vermelhas, verdes, amarelas sejam dadas e cartas de amor sejam escritas. Que pessoas se encontrem e o amor prossiga realizando suas benéficas artimanhas.