11 de março de 2010

Em crescimento




































Era eu na janela, vendo, escutando, sugando, e de tudo querendo pegar, lamber, sentir, e de tudo querendo cheirar, colher, conhecer. Era eu caminhando pelas calles, com ou sem pressa, com ou sem caneta nas mãos, e de tudo querendo colar na sola dos sapatos, pendurar nas orelhas, registrar na adorável memória, que tem lógica própria, dispõe de poder de decisão e sabe o que fazer com todas as experiências que lhe apresentamos. Era eu deslizando na pele das cidades, e de tudo querendo depositar no coração, trazer na bagagem, que ficou do tamanho que eu não sei dizer, mas eu segurei todinha, inteira, e sem reclamar. Uma grande-extensa-gigante bagagem, que ficou tão bonita! E com um sabor delicioso de vida. Tenho notado que eu nem sei como armazená-la. É sério, não adianta, já tentei, busquei como pude, mas não me chegam as medidas que eu necessito para registrar o que eu vivi ao longo de 55 dias dedicados ao desbravamento da América do Sul. Sim, vivemos um desbravar, através do nosso amado ônibus, que após nove dias de viagem entre Caracas e Salvador, apontou, hoje, em terras soteropolitanas. Ai, foi tão bom revê-lo! Olhei-o com carinho, cheguei pertinho, falei com Domício, um dos iluminados motoristas cujo filho aniversariou também ontem, e, para sua surpresa, seu bolinho foi repartido com a presença do pai querido. Viva! O sol estava forte, quando me encontrei com o nosso firme veículo e, passados os primeiros minutinhos de contemplação, entrei, andei em seu corredor e apanhei pertences meus que não vieram comigo, no último dia 03, quando fizemos de avião o percurso Caracas - São Paulo - Salvador. Desde a partida da Caravana, no dia 8 de janeiro, a proposta era termos uma atividade final em Brasília, o que implicava em irmos de ônibus da Venezuela para o estado de Roraima; de lá voaríamos para a capital brasileira, onde cumpriríamos alguns compromissos e pegaríamos outro avião para nossa querida Bahia. Ou seja, no planejamento da viagem já havia um trecho aéreo, mas este foi antecipado porque nossa programação em Brasília não aconteceu. As pessoas que nos receberiam nos ministérios não tinham espaço na agenda. Sendo assim, já em Caracas entramos no avião que nos trouxe para Salvador, enquanto o Inulatão seguia pelas estradas. Foi um dia inteiro dentro de dois aviões impessoais, se comparados ao nosso ônibus, companheiro de fé que se tornou nosso xodó: lindo, com as bandeiras dos países pintadas em sua casca; aconchegante, ágil e fiel, pois não nos deixou na mão em nenhum momento. Mas, eis que na volta para casa o abandonamos e nos rendemos à impessoalidade das aeronaves da TAM. Contudo, como estávamos em total pique de viagem boa, logo pusemos festa no ambiente, e o melhor foi notar que nossa festa se somou à linda recepção que tivemos no aeroporto. Foi uma delícia ver nossas famílias, amores e amigos nos aguardando. Chegamos envoltos em nossa blusa amarela, como se fôssemos a seleção brasileira de vôlei. Houve gritos, risos, aplausos. Carregamos a bandeira do povo indígena nas mãos, e assim espalhamos as suas cores para todos que nos esperavam. Agora, fecho os olhos, passo em revista alguns acontecimentos. Como é gratificante ver que, a partir de uma inesquecível viagem, eu somei muita energia, cavei o que eu ainda não sabia que havia no mundo, elasteci as dimensões do meu saber, mas constatei principalmente o gigante não-saber que me habita. E, de repente, quando me procurei, não tive dedos para imediatamente escrever, após meu desembarque em Salvador. Mas, cheguei e estou aqui, seguindo, sendo e crescendo mais latina.

3 comentários:

  1. Oi Saroca! eu já estava agoniada sem noticias suas! e estou bsstante curiosapor um momento cim voc.
    Beijos!
    Zelia

    ResponderExcluir
  2. Sara, esta expressão:"elasteci dimensões do meu saber" é o máximo! E ..." constatar o gigante não saber", lembra um pensamento que diz assim: " O que sei dá pra encher um livro, o que não sei dá pra encher o mundo"! Bjo Alaide

    ResponderExcluir
  3. Lindo texto, Sarah. Sinto falta de conviver com a sua leveza no cotidiano. Bjs

    ResponderExcluir