29 de abril de 2010

Olhando para mim

Mãos intolerantes com o descompasso da semana,
uma necessidade de eliminar contratempos,
e a certeza de que, para algumas coisas,
não me cabe ofertar quem eu sou.

Quero o acerto como alvo,
e a liberdade para não investir naquilo que,
por não ter tom de gente,
não me rende o tipo de emoção que eu me ocupo em sentir.

Gosto do que me toca o peito.

15 de abril de 2010

Corresponsabilidade não assumida

Eu estava acompanhando a edição do Jornal Hoje de alguns dias atrás, no período em que as chuvas geraram profundos danos no Rio de Janeiro, quando a jornalista Sandra Annenberg, âncora do Jornal, após a exibição das imagens que demonstraram a dor das famílias cariocas que, irremediavelmente, perderam tudo: pessoas, casa, documentos e tudo mais que não há nomes para nomear, disse: "nós, jornalistas, somos treinados para cobrirmos tragédias". Não acreditei no que eu escutei e tive uma reação de repulsa a esta afirmativa. Sou jornalista. Estudei na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde tive professores e professoras de todos os tipos, mas nenhum me ensinou a cobrir tragédia, nem eu nunca achei que pudesse ser este um aprendizado a colher na graduação em Comunicação Social.

Não, Sandra Annenberg, nós, jornalistas, não somos treinados/as para cobrirmos tragédias. Se você aprendeu este equívoco na universidade, saiba que erraram, e muito, em sua formação. Mas, ainda que tenham lhe dito esta insanidade, você, no largo exercício da profissão, poderia ter investido no desmanche deste absurdo e construído uma percepção mais humanística do papel do/da jornalista na sociedade, que para ficar somente na acepção da professora Raquel Paiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), este/a seria - guardadas as devidas proporções - o que equivaleria ao narrador, narradora da sociedade, leitura que - eu sei - merece ponderações, uma vez que narrar a vida social é uma possibilidade que deve ser exercitada por qualquer cidadão/cidadã. Afinal, a Comunicação é um direito humano.

Mas, quando chama atenção para o lugar da narrativa sobre aquilo que pipoca na vida social, a professora Raquel Paiva alerta para o olhar que as notícias devem lançar sobre a realidade. Cabe ao jornalismo a observância daquilo que transcorre nos quatro cantos de uma cidade, no sentido de detectar as cenas urbanas que, se comunicadas, podem ser alvo de mudanças. Então, pergunto: por que a Rede Globo de Televisão, dispondo de significativas equipes de repórteres no Rio de Janeiro, não denunciou os riscos de desabamento no Morro do Bumba? Mesmo contando com helicópteros e outros equipamentos de observação da realidade, no estado que inclusive é a preferência da Globo para a gravação de novelas e outros produtos, a emissora não noticiou a grave situação do Morro, onde o lixo era o alicerce das casas, e assim não pressionou o poder público para que este tomasse a providência de realocar as famílias para um espaço onde houvesse dignidade e bem-estar social.

Após o desastre que retirou a vida de mais de 40 pessoas - as estimativas é que este número cresça, pois os bombeiros ainda não concluíram o trabalho de resgate dos corpos - a frase a ser dita não é: "somos treinados para cobrirmos tragédias". Não vou negar que o exercício do jornalismo cruza com situações trágicas no caminho, mas, no caso do Morro do Bumba, a tragédia poderia ter sido evitada; havia estudos acadêmicos feitos há um bom número de anos, e talvez, se o jornalismo realmente cumprisse seu papel de revelador da dinâmica da vida social e denunciasse aquela realidade, fazendo pressão ao poder público, outra cidade poderia existir, hoje.

6 de abril de 2010

Descolada

Estou me soltando da âncora que firma o passo no mesmo lugar. Por um preço que ainda não sei qual é, resolvi embarcar em novas maneiras de estar no mundo. Adoro poder ser quem eu ainda não fui. Sedenta estou. Curiosa também. Que venha a novidade que eu espero, e eu alcance o resultado que quero.