30 de junho de 2010

Sou gente

Ando prestando atenção nas cores de junho, digerindo incertezas, apurando o escândalo, fazendo releituras: sou gente, nada me diz o contrário.

Pego-me botando tempero na panela, recheando verdura, limpando pia, lavando louça.

Uma delícia descascar aquela abóbora, hoje! Sentir nela a terra que lhe deixa ser. Apanhar sua textura como se habitada de mim, ela, tão saborosa que é, estivesse.

De mãos dadas com a memória, dou-me ao rasgo do vazio que não me soluciona, brinco de esquecer que sofri, domestifico meu instinto, ressurjo fêmea e não escapo do que isso significa.

Sigo na direção do meu profundo. Procuro implodir todos os estabelecimentos duvidosos que me habitam, para existir expansivamente e não restringir a felicidade.

Sei que carrego olhos sem muralhas, e minha fervura esnoba as convenções.

Caminho sem regras pela casa, vago entre páginas de um livro e não me rendo ao pensamento sobre o futuro. Só peço a Deus que este me seja dado sem muita bagunça.

Interessa-me apenas conduzir-me ao melhor de mim, deixar de lado as dores sem razão, abondanar o preço que não preciso pagar para ser quem sou e, elegantemente, esbofetear a cara do desperdício.

Sou gente e nada me diz o contrário.

17 de junho de 2010

Continuidade

Sinais bonitos na cama e a bagunça do edredom com o lençol merece ser prolongada. Ah, tem hora que a vida pede reticências.

Lição

Ontem, estendendo panos de chão, tive dúvida quanto ao modo que deveriam ser distribuídos no varal: se dividindo o mesmo pegador, ou tendo cada um os seus. Escolhi uma das possibilidades e aprendi que o "não sei" também impulsiona decisões. Disse isso para o meu amor. Ele? Trouxe-me vários argumentos sobre a certeza.

14 de junho de 2010

Notícias

Assuntos da alma me chegam sob um toque de espera e se instalam no reduto interno que tudo capta, para, mais tarde, virarem palavra sobre superfície desconhecida; bem assim como se faz a vida, após tomarmos uma xícara de café, enquanto a manhã se espalha. Afinal, nem sempre sabemos como vamos ficar dali em diante, como será a continuidade do dia, como vai ser o atravessar daquela rua, mesmo sendo aquela rua a mesma rua de sempre; o que vai dizer o rosto do motorista de ônibus ou que gosto vai ter o beijo dado na nuca do amor.

É isso: um bom número de possibilidades em minha frente e eu à mercê do doutorado. Vejo-me recheada de sensações, mas pouco tenho escrito nesta ancoragem delicada onde gosto de estar. Nos últimos tempos, durmo e acordo sabendo que sou gente dada à feitura de um texto, que daqui a algumas semanas será apresentado para um time de professores. Eles hão de me dizer se minha pesquisa está no rumo certo, ou requer uma mudança de rota. Mas, estou bem sendo esta pessoa que, dedicada à leitura científica, se faz em mais uma versão de si. É bom se experimentar.

2 de junho de 2010

Combinação

Cheiro,
toque,
vontade,

beijo,
assédio,
fome,

livro esquecido,
horário abandonado

desrespeito,
riso,
fogueira;

tudo pode,
quando a seta
se anuncia.