17 de abril de 2012

Já me vou, mas antes, invento âncoras

17 de abril de 2012: um ano que eu moro em Strasbourg, na França, e há poucas horas, indo da estação de tram Landsberg em direção ao número 28 da Rua de Benfeld no bairro Neudorf, onde está minha casa: um apartamentinho lindo caiado de amarelo por fora e laranjinha por dentro, peguei-me andando muito mais lentamente do que de costume. Dedicada estive à apreensão dos detalhes das construções, às crianças brincando no parquinho público, ao movimento da padaria e à beleza das árvores que enfeitam o percurso várias vezes feito por mim e que, em breve, sairá da minha rotina. Meu retorno para o Brasil aponta no calendário. Sinto-me, por isso, chamada a guardar cores, cheiros, sabores, tempos, verbos, fisionomias, texturas e curvas da cidade que, sem pressão alguma, me convocou ao apuro da observação. Transformarei em âncoras as capturas que fiz nesta terça-feira a caminho do meu endereço. Portanto, mesmo geograficamente distante da cidade das pontes com flor, eu continuarei à ela vinculada. Não há como eu me desvencilhar do ponto do planeta que me fez expandir o olhar sobre o mundo, me permitiu rever quem eu sou, me deu as dicas para eu aprender a relocalizar importantes referências e me mostrou que "fronteira" e "pertencimento" são duas palavrinhas muito mais cheias de significado do que eu imaginava saber, antes de cruzar o Oceano, porque durante 12 meses eu tinha mesmo que deitar a cabeça sobre um travesseiro internacional, após cada dia deliciosamente desvendado.

2 comentários:

  1. « Uma vez que você tenha experimentado voar, jamais andara pela terra sem os olhos voltados para o céu, pois la você esteve e para la desejara voltar. «
    Dizem que essa frase é atribuída ao Leonardo da Vinci. Não sei se é verdade, mas o conteúdo é muito verdadeiro. Eu a li há uns dias e perfume melancólico que emana do teu texto me faz recorda-la. Quem viveu fora de sua terra natal se tornara um estrangeiro para sempre. As construções e aquisições que se desenvolvem a partir de tal vivencia nos transformam. Nossos novos contornos exigem novos nichos quando voltarmos, por vezes difíceis de escavar.
    Te ler é um prazer enorme!
    Beijo Carinhoso!
    Luciano

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  2. É Sarah.acredito que inevitavelmente você agora é uma "Cidadã do mundo" parafraseando D Helder câmara!
    Mas venha que estamos lhe esperando de braços abertos com muitos beijos e conversas como é comum na nossa família graças a Deus!

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