6 de outubro de 2012

Antecipação do resultado

Dois dos tradicionais colégios de Feira de Santana são a prova de que na difícil luta do idealismo contra o capital este, infelizmente, quase sempre sai vencedor. O Nobre e o Anísio Teixeira começaram sua história, tendo no comando pessoas comprometidas com a produção saudável e libertária do conhecimento. Luciano Ribeiro, no primeiro caso, e Ana Angélia e professor Jerônimo, no segundo. Atualmente, as duas escolas são administradas por verdadeiros comerciantes da educação e Luciano, Ana Angélica e Jerônimo saíram de cena.

Considero emblemática esta cessão do horizonte essencial do saber às cifras que correm nas mãos dos atuais diretores dos citados estabelecimentos educacionais, pois revela como a cidade, que emergiu de uma feira, tem mesmo forte vocação para o comércio. Estudei no Anísio e tive a sorte de ter sido aluna de filosofia do professor Jerônimo, cujas aulas não esqueço. Contato menor eu tive com Ana Angélica e jamais interagi com Luciano Ribeiro.

Deste o pouco que eu sei foi construído a partir de uma escuta nada estruturada das falas da minha família sobre sua história de oposição à ditadura, e que é também a de Chico Pinto, e, se alguém é contra o horror do autoritarismo e a castradora repressão, eu gosto imediatamente. Mas Luciano, que na barganha da defesa dos valores da educação, perdeu para o magnata do colégio Nobre, nas atuais eleições municipais se rendeu ao lado que lhe perseguiu, tornando-se candidato a vice-prefeito na coligação que nunca virou a página do coronelismo.

Além da desesperança que representa a associação de Luciano a Zé Ronado, a disputa para o executivo e o legislativo municipal traz mais uma perda e esta para ser compreendida requer outra retrospectiva.

Cresci na cidade de Feira de Santana de onde saí aos 17 anos. Sem praticamente nada entender acerca da prática política, no começo da adolescência eu nutria uma grande admiração pelo prefeito Colbert Martins da Silva. Ele era do PMDB, usava cadeira de rodas, tinha ideias inovadoras e representava uma força popular fascinante. Lembro de Feira ter sido notícia nacional num tempo em que isso ainda era visto como uma grande coisa, pois os projetos de Colbert o colocavam numa condição de um homem público arrojado e com ideias de cunho estruturante para a cidade, ou melhor, para o Estado, e isso foi motivo de reportagem de grande alcance.

Infelizmente, Colbert, ao contrário do sábio Lula, não fez escola, ou seja, não deixou discípulos que continuassem sua atuação comprometida com o coletivo. É bem verdade que um dos seus filhos ingressou na carreira política e veio a ser deputado federal e também candidato a prefeito em Feira, mas não se elegeu. Por carregar o gene de um humanista e ter atuado de forma honesta no parlamento, transitou positivamente ao lado de referências como o intelectual Ildes Ferreira, o ex-padre Albertino Carneiro, minha avó Linézia Carneiro, o pensador Elói Barreto, os ativistas Nedson e Chica, do MOC, e os já citados Luciano Ribeiro e professor Jerônimo na galeria dos que, em Feira de Santana, colocam a justiça como um valor orientador e sabem que pobreza e exclusão não são dados naturais, mas frutos de uma desigualdade social historicamente construída, que, na Bahia, teve a forte contribuição do Carlismo.

Nestas eleições municipais, assim como Luciano Ribeiro, Colbert Filho, ou melhor, Colberzinho, como é conhecido, se aliou a Zé Ronaldo, ex-prefeito da cidade e integrante do partido Democratas, antigo PFL. O educador e o filho do prefeito mais respeitado da história de Feira de Santana tornaram-se cúmplices de um homem, cujo talento para a ditadura se equipara ao de Saddam Hussein e este encontro sinaliza a ruptura de Colberzinho com a forte simbologia do seu pai e a desistência de Luciano de emprestar seu nome à mesma fragrância que exala do respeitado nome José Jerônimo de Moraes, professor emérito da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), e que há muito tempo me ensinou a ver filosoficamente Deus e o amor.

Não sei, hoje, claro (ops, não é tão claro assim, pois em terra onde voto é mercadoria, eleições podem ser compradas), o resultado da disputa eleitoral que vai acontecer amanhã para prefeito e vereador. Mas, independente do veredito, tenho certeza que a maior derrota já aconteceu. Os perdedores do pleito de 2012 na cidade de Feira de Santana são a coerência, a memória de Colbert Martins da Silva e o time dos dignos, na medida em que Colberzinho e Luciano cometeram a estupidez de aderirem ao elitismo, que é sinônimo de nepotismo e maltrato às classes populares.

2 comentários:

  1. Concordo com tudo o que está dito aqui, porém destaque para o seguinte trecho: "Os perdedores do peito 2012 na Cidade de Feira de Santana, são a coerência, a memória de Colbert Martins da Silva e o time dos dígnos..."!

    ResponderExcluir
  2. Alaíde querida,

    Pois é, estes são os grandes derrotados.

    Beijocas

    ResponderExcluir