8 de junho de 2011

Daquilo que me toca I


Eu ainda nem sabia que o salário mínimo na França é aproximadamente 1000 euros e que a jornada de trabalho semanal aqui tem 35 horas, quando descobri, passando a pé por uma rua, todinha tomada por belos prédios de quatro andares e com um mercadinho charmoso na esquina, que no dia 25 de abril, Segunda-feira de Páscoa [feriado que nós no Brasil não temos], no lado de dentro desta delicada janela, com cortina branca bonita e jarrinho azul com flor, alguém dedilhava o piano e enfeitava com música as horas que passavam no interior e também fora de uma atraente casa, identificada sob o número 33.

Naquela segunda-feira em que embarquei nos acordes que tomavam a calçada, eu não sabia, como continuo sem saber, como funciona ao certo a gestão municipal dentro das fronteiras francesas e muito menos tinha averiguado o preço do combustível praticado nos postos deste país. 50 dias de morada boa em Strasbourg e ainda não foi possível, claro, absorver como se ergue uma escola nas bandas de cá, não memorizei o nome de boa parte das praças e estou longe de apreender os segredos de uma das culinárias mais sofisticadas do mundo.

No entanto, porque ouvi com meus próprios ouvidos, caminhando pela cidade, posso assegurar que levo comigo a experiência de ter passado em frente a uma residência que ecoa belezas sonoras, através de um piano. E, embora eu não saiba quanto custa abastecer o tanque do carro em Strasbourg, eu já sei que aqui há uma casa, que guarda o número 33 e que no dia 25 de abril espalhou musicalidade pelos ares. Meu Deus, e como é bom me ver dada também a um aprendizado solto, distante do academicismo, envolto numa gostosura que aquece o espírito!

Delícia abraçar o que eu vou aprendendo, bem assim desse jeito meu: bobo e devagar, e que me faz, antes de adentrar algumas informações mais burocráticas, saber, primeiro, sobre janelas, cortina branca, jarrinho de flor, casa número 33 e piano.

2 comentários:

  1. Gostei da expressão"distante do academicismo"!
    Acho também importante que vivas intensamente essa experiência ai na França! Pois como eu afirmo sempre, academicismo por si só não preenche a vida de ninguém
    ah estou com saudades! Bj

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  2. Meu anjo,

    Que bom que gostou! Obá! Sim, sim, quero estar aberta aos ganhos que ultrapassam a lógica acadêmica, e que eles me cheguem.

    Também estou com saudades.

    Beijocas,
    Sarah

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