15 de março de 2013

Lógicas

Não é de contagem regressiva que eu desejo me compor e opto por adotar um calendário devotado ao inconsequente passar dos dias, pois quero que minhas impressões em torno do meu envelhecimento se afastem em definitivo das conclusões publicadas pelas massificadas revistas femininas lidas nos salões de beleza.

Tenho sedes outras, portanto, tendem a ser outras as respostas que podem me confirmar, se andei ou não, se tropecei ou não.


Meu esquema de atualização do tempo tem linguagem própria e há algumas semanas, por exemplo, para sinalizar que estamos adentrando a segunda quinzena do terceiro mês do ano que corre, ele me encaminhou o seguinte SMS: "caríssima, para trás ficou o período em que a semana tinha que obrigatoriamente lhe render um número x de páginas escritas porque era você uma mulher que precisava preparar uma tese de doutorado, em meio ao calor dos Trópicos, custasse o que custasse".


Li com calma as suas acertadas palavras e lhe comuniquei: "É... aqueles foram dias em que cruzei os meus exageros, tive todos os receios, dormi muito pouco e tomei como meus os trejeitos de quem devora livros para se preparar para uma avaliação rigorosa. Contudo, saí deles carregando uma correta e preciosa certeza: eu sei muito bem o que é dar exclusivamente a um foco". 


Após esta troca com o setor da minha subjetividade que organiza a minha relação com o relógio, fiz-me um carinho pelos meus acertos, revisei os meus planos, olhei para frente e a trilha que vi tem tamanho e largura bem novos. Agora estou onde não há bolo de milho, mas em compensação não se fica muitos minutos esperando os carros passarem para que se possa atravessar uma rua. 


Estou morando onde o frio se enraíza pelos pés, faz arruaça e, sem pena, impõe a sua presença. Mas eu, que nasci no Agreste onde o tal frio não tem vez, rejeito em absoluto esse seu modo autoritário de se instalar. Prefiro prosseguir sendo a que chega aos lugares com vontade de ouvi-los, querendo absorver as suas lógicas e com elas negociar, procederes estes que o ditatorial frio está muito longe de saber fazer.  

3 comentários:

  1. Não podemos encarar o tempo apenas como passagem, e dentro do mesmo existe o novo, o novo em cada mesma ação em cada mesma palavra. Já não mais visitava a sua página, justamente por conta desta ausência do novo. Espero que o tempo deste lado não insista em congelar o que deve permanecer aquecido.
    Luz pra ti!
    Danilo Umbelino

    ResponderExcluir
  2. Danilo querido,

    Como sua visita me alegrou! E como suas palavras sobre o lugar do novo no "Conversa da pele com o tempo" me tocaram! Obrigada. E que o meu lado escritora jamais adormeça, jamais se congele, ainda que o frio das bandas de cá seja um sujeito insistente. Saiba que é muito bom contar com sua leitura.

    Um abraço enorme,
    Sarah

    ResponderExcluir
  3. Sarita que saudades, que falta vc me faz,que falta fez hoje no ensaio que fizemos aqui em casa... nao se esqueça de mim que te amo tanto...

    ResponderExcluir