24 de junho de 2014

As estratégias empregadas pelos resistentes envolveram força, coragem e contaram com a solidariedade de muitas pessoas

Para minar o poder alemão, os resistentes recorreram à imprensa clandestina, sabotagens, espionagens, redes de informação, paraquedismo, greves de setores estratégicos, lançamento de bombas, cortes de cabos telefônicos e à formação de maquis, grupos camuflados que se posicionavam em pontos estratégicos para desestabilizar as ações da Wehrmacht, conjunto das forças armadas da Alemanha.

“Inicialmente o movimento foi muito pulverizado, com muitas iniciativas isoladas. A Resistência no começo era somente escrever palavras anti-Pétain nos muros e espalhar frases como ‘Viva De Gaulle’. Meu pai, por exemplo, em 1941, recolhia armas e explosivos, mas eles não sabiam o que iam fazer com aquilo”, explica Georges Duffau-Epstein, filho de Joseph Epstein, fuzilado em abril de 1944, no Mont-Valérien, onde houve aproximadamente 1000 fuzilamentos e onde, hoje, existe um monumento consagrado à memória nacional.

Acervo Musée de la Résistance Nationale
Fotos: Luciano Fogaça
Réplica de artifício para detonar trilho de trem

Equipamento de rádio usado para criar uma rede de comunicação entre os resistentes 

Joseph Epstein foi um intelectual polonês, combatente antifascista na Guerra Civil Espanhola e que liderou o grupo FTP-MOI – Franc-tireurs et partisans - Main d’oeuvre immigrée (Franco-atiradores e Partidários - Mão de Obra Imigrante), segmento da Resistência que reuniu estrangeiros.

Esse grupo ficou particularmente conhecido pela virulência das suas ações, entre as quais inúmeras explosões e atentados contra tropas alemãs em plena luz do dia, e também por ter tido 23 dos seus integrantes condenados à morte sem recurso de apelação, dos quais 22 foram mortos no Mont-Valérien, por meio de um ato comum de fuzilamento, e a única mulher entre eles decapitada em maio de 1944.

As fotos dos 23 resistentes foram usadas pela propaganda alemã num cartaz que passou a ser chamado "Affiche Rouge" e foi disseminado com o intuito de desacreditar as ações da Resistência, episódio que junto com algumas outras lembranças povoa a memória do polonês André Schmer, ex-integrante do FTP-MOI, que com convicção narra o que se propôs a fazer em prol da sociedade francesa:

“Sempre tive em mente que a França é o país da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade e não podia ser dominado por uma força autoritária. Eu ainda era muito jovem e sabia disso. Então, comecei a distribuir panfletos antinazistas nas ruas. Lembro-me de ter subido no alto de um prédio e improvisado um dispositivo que os espalhava por todos os lados porque era necessário que as ideias libertárias chegassem a todos”, diz o ex-combatente e militante do Partido Comunista, hoje com 86 anos.

Foto de arquivo
Affiche rouge (Cartaz vermelho)

Algumas ações e a importância fundamental de afetar as ferrovias
Entre os grandes feitos da Resistência, estão a greve dos mineradores do Nord-Pas-de-Calais, região rica em carbono, bastante cobiçada, portanto, pelos alemães, e os ataques que aconteceram na parte do sul do país, ambos em 1941. Neste mesmo período uma manifestação formada apenas por mulheres foi organizada na periferia de Paris para exigir a liberação de prisioneiros de guerra.

Desde 1940 um conjunto de ações já vinha demonstrando o descontentamento de parte da população francesa com a invasão alemã. Em julho deste ano, estudantes dos liceus parisienses paralisaram as aulas para mostrar o desacordo em relação à política educacional que passou a ser adotada pelo governo de Vichy e pela Ocupação. No dia 11 de novembro, uma grande mobilização jovem aconteceu na Place de l’Étoile e foi alvo de uma severa repressão.

Contudo, a unificação das forças armadas da Resistência só veio a acontecer em 1942. Da junção de vários grupos armados resultou a Força Armada Secreta da MUR, que com o apoio dos organismos britânicos, Special Operations Executive (SOE) e Intelligence Service (IS), e mais tarde com a contribuição das forças americanas, conseguiu dar importantes passos, como a desconexão dos trilhos entre algumas cidades, atrapalhando assim os planos dos alemães.

Interromper rotas, confundir informações e gerar um caos no transporte público foram ações empreendidas pelos cheminots (ferroviários em francês), peça-chave no progresso da Resistência. A ligação férrea, numa extensão de aproximadamente 200 quilômetros, que conectava cidades como Brive e Toulouse, no sudeste francês, por exemplo, foi uma das que foi completamente cortada, e entre junho e agosto de 1944 este trajeto não pôde ser cumprido. Atos como este afetavam os mais diferentes propósitos alemães, entre os quais o uso de trens para a deportação de pessoas.

Acervo Musée de la Résistance Nationale
Panfleto indicando sabotagens feitas pelos ferroviários

Solidariedade
A Resistência contou com a atitude corajosa de muitos funcionários do estado francês, como os controladores da “Linha de Demarcação”, que deixavam as pessoas, proibidas de irem de uma parte a outra do país, transitarem entre a zona norte e a zona sul. Houve também o apoio cedido por muitas famílias que abrigavam resistentes em suas casas, ou cediam espaço para a realização de reuniões e instalação de instrumentos de decodificação de informações, como equipamentos radiofônicos.

Por parte da sociedade civil muitas táticas foram usadas para comunicar a discordância com as ordens alemãs, como, por exemplo, ondas de assobios coletivos atrapalhando a veiculação dos cinejornais pró-alemães, destruição sistemática dos cartazes assinados pela Ocupação ou pelo Estado francês e uma presença em massa nos funerais dos resistentes ou aviadores aliados.

Em novembro de 1942 a Resistência envolvia 30 mil pessoas, e em 1944 chegou a reunir 450 mil combatentes; mas considerando os leitores da imprensa clandestina, alcança-se o número de 2 milhões de simpatizantes à causa, conforme afirmam alguns estudiosos. 

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