24 de junho de 2014

Não se pode falar em uma Resistência única e homogênea: as reações contrárias ao nazismo na França eram numerosas e pulverizadas

A presença de De Gaulle, em Londres, estruturando à distância a teia de pensamentos que alimentava o senso de oposição ao nazismo e que viria a ser posta em prática na França, sugeriu um modo de classificação que acabou por nomear de Résistance intérieure (Resistência interior), aquela que se desenrolava dentro das fronteiras da França, e de France libre (França Livre), a que se constituiu fora dos seus limites geográficos e que, em Londres, desencadeou a FFL – Forces françaises libres (Forças Francesas Livres).

A France libre, no entanto, não se restringia somente à capital britânica, pois ganhou terreno, ainda que tardiamente, na África do Norte, onde havia colônias francesas. Estas, num primeiro momento, responderam sem ressalvas às orientações de Pétain, mas depois, mobilizadas pelo general Henri Giraud, desenvolveram um posicionamento antinazista e, em junho de 1943, na cidade de Argel, capital da Argélia, o CFLN – Comité français de libératon nationale (Comitê Francês de Liberação Nacional) foi fundado.

De um simples reagrupamento informal de voluntários – contava em 1941 com um efetivo de 450 pessoas –, a France libre passou a um organismo com vocação governamental disposto a rejeitar as leis advindas da França de Vichy. Pouco a pouco a France libre foi sendo reconhecida pela opinião pública internacional e, em 1943, um conjunto de 30 países a absorvia diplomaticamente. Suas articulações com a Résistance intérieure eram uma prioridade e ficou a cargo do BCRAM – Bureau central de renseignements et d’action militaire (Escritório Central de Informação de Ação Militar).

Em território francês, diferentes iniciativas contrárias ao nazismo emergiram. Na parte norte, os grupos mais importantes foram Combat, Libération e Franc-Tireur, e na parte sul, Ceux de la Résistance (CDLR), Ceux de la Libération (CDLL) e Organization civile et militaire (OCM). Com pontos de convergência e de divergência em relação a muitos aspectos da luta, sendo um destes a interpretação que cada grupo tinha da noção de “nacionalismo”, praticamente todos os agrupamentos, num primeiro instante, apostaram na propaganda como a principal arma política.

Desde os primeiros impulsos voltados à Resistência, jornais e panfletos circulavam na França disseminando seus ideais. Pantagruel foi um dos primeiros e já em outubro de 1940 era produzido, em Paris. Depois dele, centenas de outros títulos foram impressos no país até que, em novembro de 1943, uma espécie de federação nacional da imprensa clandestina foi criada para coordenar os esforços no ramo da comunicação. 

Acervo Musée de la Résistance Nationale
Fotos: Luciano Fogaça
Máquina de datilografia usada pela imprensa clandestina

Mimeógrafo usado pela imprensa clandestina

Jornal Pantagruel: um dos primeiros jornais veiculados pela Resistência

Estudantes, religiosos, políticos de distintas tendências, professores, empresários e intelectuais, que de alguma forma fizeram parte da Resistência, tinham visões distintas em relação ao qual deveria ser o alcance do combate, os objetivos que podiam ser agregados para além dos mais óbvios, e alguns socialistas chegaram a desconfiar dos reais interesses de De Gaulle, forçando-o inclusive a reafirmar a sua concordância com a aspiração patriótica do movimento, o que De Gaulle cumpriu, mas deixando claro que, em sua opinião, a Resistência tinha a obrigação de também agregar objetivos voltados a uma profunda renovação política e social.

Unificação
Unificar as múltiplas visões que circulavam no âmbito da Resistência, marcada desde o princípio pela ambivalência de propósitos, foi se tornando gradativamente uma urgência, visto que era necessário fortalecer a ação política e definir quais seriam as estratégias que viriam a resultar na liberação da França, importante projeto da Resistência, ainda que não tão claro nos seus primeiros anos.  

O alinhamento das distintas frentes da Resistência, ou seja, nacionalista, cristã, socialista e comunista só viria a se tornar viável no início de 1942 a partir dos pontos que, entre todos, eram uma concordância, a saber: a oposição irrestrita ao nazismo e a luta pela retomada da soberania francesa.

Diante disso, coube ao resistente Jean Moulin, que tinha sido prefeito de Aveyron e, quando da instalação da França Ocupada havia se recusado a assinar documentos que a fortaleceriam, a função de mentor do processo de unificação, cujo ápice foi a criação, em janeiro de 1943, do MUR – Mouvements unis de la résistance (Movimentos Unidos da Resistência), o qual integrava num só núcleo os grupos da zona sul e o Comitê de Coordenação do Norte.

Jean Moulin foi uma das figuras centrais da Resistência e veio a ser capturado pela Gestapo em maio de 1943, morrendo em 8 de julho do mesmo ano, depois de ter sido interrogado e torturado.

Acervo Musée Jean Moulin
Jean Moulin

Os partisans
Para alcançar os objetivos traçados, a Resistência, além da unidade de ideias, precisou de dinheiro e de armas, e estes recursos foram conseguidos paulatinamente, por meio da doação dos próprios resistentes, que eram chamados de partisans (partidários), adotavam individualmente pseudônimos, costumavam usar barba, bigode e óculos falsos como disfarces, fizeram da música Chant des partisans, de Anna Marly, um hino, e reconheceram a Cruz de Lorena como símbolo.

http://youtu.be/-FgVkAKd-SY

Entre os partisans, havia comerciantes, professores funcionários públicos, universitários e empresários, como é o caso de Maxime Védy, cujo percurso revolucionário será narrado noutra matéria, e que doou parte significativa do seu patrimônio à causa.  Segundo o historiador Jean-François Muracciole, a Resistência detinha, em 1940, um suporte financeiro de 14 mil francos (o que equivale hoje a aproximadamente 30 mil reais).

Apesar dos esforços empregados pelos resistentes para conseguirem fundos e se armarem, Muracciole diz que o movimento sofria de uma contínua falta de dinheiro e a quantidade de armas que detinha era insuficiente para o número de membros que reunia. Segundo ele, para a liberação de Paris, havia 20 mil homens mobilizados, mas somente 200 armados.

Resistente brasileiro

Embora o Brasil tenha participado da Segunda Guerra, através da FEB (Força Expedicionária Brasileira), houve um brasileiro que desempenhou importante papel na Resistência: trata-se de Apolônio de Carvalho, que comandou uma guerrilha em de Lyon, e em virtude deste engajamento, Apolônio foi condecorado com a Medalha Legião de Honra.

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