14 de janeiro de 2010

Outras camadas do Paraguai

Ficou para trás, na tarde de ontem, a Ponte da Amizade, tão mostrada pela mídia, através das imagens das pessoas jogando suas compras no rio, para se livrarem do pagamento do imposto, que, segundo os vendedores das lojas, é de 50% do valor do produto adquirido, e, quando se paga, leva-se em média duas horas numa operação que acontece numa agência do Banco do Brasil, situada na aduana, como uma continuação da Receita Federal. Não tem como passar por essa tão televisionada ponte, e não acessar o arquivo, que em nós, é formado por meio das notícias. Logo, é mesmo impressionante como os meios de comunicação constroem nosso olhar sobre os espaços, as pessoas, as ideias, os sentimentos etc. Constatação esta, que além de nos obrigar a lutar por uma comunicação que permita a expressão de todos e todas, nos diz que precisamos caminhar, nos movimentar, sair de onde estamos para ver o que é mesmo que existe no mundo, saber como é o mundo, tocar o mundo. Estou nessa. Nessa de enxergar o Paraguai para além de uma grande loja comercial, onde tudo se compra e se vende. Quero falar muito mais de como estou me sentindo, ao ver e viver um Paraguai que ultrapassa as marcas Sony e Panasonic, e que vai além dos perfumes baratos e das negociações escusas. Sim, estou tocando um Paraguai que luta pelo direito à terra; um Paraguai, que em suas ruas, abriga carros antigos, mas não pessoas famintas; um Paraguai, onde a sopa não se pode tomar de colher, pois é sólida, e a agitação parece ser uma palavra fora do vocabulário do seu povo, pois Assunção é uma cidade pacata e carrega uma simplicidade - que a princípio - parece decifrável para quem a olha com atenção. Sinto vontade de preencher mais este texto com as vivências tidas aqui até o momento, mas vou precisar conclui-lo, o que farei deixando alguns registros fotográficos feitos na minha caminhada pelas "calles". Sim, há muito já em mim para sair em forma de palavra, mas daqui a pouco vou participar de uma entrevista com Belarmino, um dos condutores do Movimento Campesino Paraguaio (MCP). Depois, devo visitar a sede de uma emissora de televisão comunitária e conhecer um pouco mais desta cidade, que foi por mim encontrada, por volta da meia-noite de hoje, quando a Caravana aqui chegou. A saída de Foz de Iguaçu, a travessia da Ponte da Amizade e a chegada aqui ainda merecem muito mais de minhas mãos escreventes. E que este mais venha.

Um comentário:

  1. ... E que venha mesmo, pois eu amo "degustar" suas palavras, você se supera a cada um de seus textos!
    Parabéns
    Bj

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