2 de janeiro de 2010

Que a energia se renove

E eu, que passei o ano de 2009 todo sem consegui me conectar com as datas que requerem os meus rituais, transformei o reveillon numa noite perdida e vazia de alegrias. Não houve fogos acima dos meus olhos e nem espumante descendo pela garganta. E de tudo tinha para ser uma excelente passagem de ano: namorado amável; festa poética em casa de amiga sensível; um poema, de Adélia Prado, e outro, de Damário Dacruz, decorados para falar na hora da virada; o último pôr-do-sol do ano, visto com o meu amor, no Porto da Barra; livro para dar de presente à amiga; duas flores vermelhas em casa; uma fruteira linda esbanjando bananas, ameixas e uvas; vestido branco comprado com antecedência. Ou seja, a quinta-feira caminhava para encontrar um delicioso desfecho, quando o último banho do ano me chegou como uma negativa a tudo de belo que poderia me ser. Toquei o meu corpo e senti sensações que me diziam o quanto corri nos 12 meses do ano, de modo que anversariei atropeladamente, após uma viagem ao Rio de Janeiro; não amei bem os que precisam dos meus presentes; não consegui estar ritmada com a celebração e nem pude ter uma conversa de pé de ouvido com a contemplação; me escapou o espírito contagiante que me estabelece na vida como amante de tudo de maravilhoso que habita o mundo; se foi um senso leve que me significa pureza, e o meu feminino simplesmente se perdeu. O banho me disse o quanto eu não tive tempo para mim, para me perceber, e esta constatação no último banho do ano me fez me desmanchar em palavras perdidas, me desfazer em chamados que não me servem. Briguei com quem me gosta, espalhei o que não edifica e, de salto alto vermelho, caminhei sozinha pelas ruas. Fiz o trabalho sujo de estragar o reveillon. E como me dói saber que fiz isso, que não segurei e emoção que me chegou, ao pendurar a toalha no banheiro. Depois que me sequei, sei lá o que me deu, que eu me transformei numa alucinada mulher gritando as insatisfações. Meu Deus, me cura disso, me cura dessa pressa, dessa necessidade de estar permamentemente ligada, me cura de ter tantos diferentes pensamentos ao mesmo tempo, me salva do que eu não preciso ser, não me deixe me perder em embaraços. Que 2010, eu sinta, simplesmente sinta, com leveza, esta vida linda que o Senhor me deu.

Um comentário:

  1. Sarita,

    Como sempre, adoro seus textos!Olha,embora cada um saiba "a dor e a delícia de ser o que é" após "escutá-la" neste texto quero que se lembre que os amigos(como eu) vão SEMPRE gostar de você e aguardar suas pausas no meio da correria,rs. No mais, lembre-se:"não leve a vida tão a sério, você não sairá vivo dela". bjs em sua pessoa generosa e criativa e MUITA FELICIDADE EM 2010,11,12.....! Heloísa Libório

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