20 de fevereiro de 2010

Magnífica estrada para Bogotá

Pétalas de flor cor de abóbora se mostram na margem esquerda, o sol ilumina o outro lado, há incessantes sinuosidades, as curvas não aliviam e as montanhas são verdes. Lembro de Ada, a mãe boliviana que interrompeu a estrada, em Oruro, junto com outros companheiros para exigirem a escritura de suas casas. Recordo-me da nossa rica conversa e tenho vontade de saber se sua luta está ganha. Será que um dia vou rever Ada? Sinto o vento me beijar e sei: estou numa estrada poética. O caminho em direção à Bogotá é assustadoramente belo. Casas beirando o nosso ônibus que passa, mas segue, e eu me perguntando que vidas a minha vida beira e que vidas existem ali beirando o percurso que me tem como viajante. Passa um homem de bicicleta, vem mais uma curva, outra e outra mais. A luz lambe a pele das montanhas dando-lhe um brilho sofisticado. Elas, as montanhas, parecem querer furar o céu. As nuvens imitam a fumaça. Surge um túnel, e, depois, virão mais dois. Tudo escurece e eu não desgrudo da janela. Acostamento não existe, preenchemos a estreita via e há despenhadeiro. A emoção festeja o que experimento de aventura! Avisto um circo, meu coração acelera e um casal na janela de casa olha para a lona colorida. O que pensam? Será o riso do palhaço no picadeiro o programa que farão, hoje, à noite? Ali perto um cavalo e seu dono interagem, uma moto preta está parada, um carro velho azul se movimenta, uma menina brinca na mesa, um varal, com duas blusas azul marinho e uma bermuda vermelha, faz o seu trabalho. De quem são aquelas peças de roupa? O homem resolveu sentar embaixo da árvore. Nasce uma cruz cercada de meia dúzia de flores rosas e vermelhas. Não dá para não ler a placa avisando o perigo. Existe um grupo de pessoas conversando para aproveitar o entardecer. Mais adiante, outro grupo faz o mesmo. Um homem usa a pia, lava alguma coisa. Sinto-me feita do desejo de sugar o que as retinas alcançam e constato que adoro inventar perguntas.

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