20 de fevereiro de 2010

Parada para dormir

Entro numa farmácia, compro sabonete, desodorante, e a moça que me atende é gentil: se propõe a trocar minha moeda de 500 pesos por cinco de 100, para que eu me pese, visto que a balança só funciona após o depósito de 200 pesos. Mas ao verificar a gaveta de dinheiro, ela notou que não tinha as necessárias moedas de 100 e, por isso, eu não pude saber com quantos quilos estou após 37 dias de viagem. A última vez que pisei numa balança, o que se deu num restaurante, em Chala, no Peru - usei a balança destinada a alimentos - eu havia engordado um quilo. Não dá para não mexer no peso, tendo uma rotina de alimentação tão incerta, com dias sem café da manhã, outros, sem almoço, e assim vai.

É o meu terceiro sabonete desde que sai de Salvador. Muitos banhos já tomei e eles são sempre renovadores, quando não, antropológicos, rs... Não posso esquecer o demorado banho que tomei no Camping, em San Pedro de Atacama, lugarejo no Deserto, no Chile, e que me rendeu doces momentos. Vou falar sobre San Pedro em outro texto, mas adianto que lá acampamos e o banho tomado, naquele banheiro que não posso tirar da minha cabeça, me chegou após dois dias sem banho, sendo que meu corpo estava coberto pelo sal das águas do Pacífico. Pode imaginar o que é um banho no deserto? Ainda mais com o corpo sem banho há dois dias e com sal e poeira sobre a pele?

Bom, mas eis que estou com sabonete novo, tenho um cheiro a mais para conhecer e, assim, a viagem cresce no tamanho e no sabor. Já são mais alguns quilômetros rodados, novas emoções vivenciadas e mais algumas cidades visitadas. Estamos na cidade colombiana de Popayán, após termos dormido, sexta-feira, em Tulcan, ainda no Equador, e, ontem, termos passado com tranquilidade pela fronteira da Colômbia e parado aqui, nesta linda cidade povoada de construções coloniais, todas brancas e espalhadas em ruas com uma iluminação em tom antigo e que dispensa postes. Trata-se de uma pausa para jantarmos e dormirmos. Ainda antes do sol nascer, seguiremos até Bogotá. Segundo informações dadas por pessoas que moram nesta parte do mundo, são dez horas de viagem até a capital colombiana. Ôps, mas pode não ser exatamente isso! Afinal, já percebemos que nem sempre o que nos dizem se confirma, sem falar que a noção de "perto" e "longe" por onde temos passado não equivale à nossa forma de perceber as distâncias.

Quando fomos do Chile para a Bolívia, por exemplo, nos disseram que de San Cristóbal, uma pequena localidade boliviana, para Potosí, cidade que merece vários escritos somente para ela, gastaríamos três horas de viagem. Contudo, considerando que o caminho entre os dois lugares é uma estrada de chão, com direito a algumas costelas de vaca que nos fizeram cambalear bastante dentro do Inulatão, e que além disso pegamos chuva no caminho e paramos para esperar carros, que estavam em nossa frente, serem desatolados, as três horas foram multiplicadas por quatro e eis que gastamos 12 horas fazendo um percurso que nos rendeu muitas histórias. Sem dúvida, o caminho entre o Chile e a Bolívia me marcou para sempre. Aliás, já são várias marcas e eu estou em êxtase com isso.

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