21 de fevereiro de 2010

O carinho de San Pedro de Atacama




































Viver grandes doses de experiências seguidas não permite que o relato emerja logo depois do vivido. Alguns episódios pedem mais tempo para serem digeridos e há várias situações deste tipo na viagem, é claro. O deslocamento do Chile para a Bolívia, por exemplo, ainda me renderá muitas leituras, outras extrações. Tudo que eu vivi naquele trajeto me toca de um modo bastante singular. E foi exatamente neste caminho que eu me deparei com San Pedro de Atacama. Era sábado e fazia um sol gostoso quando chegamos lá. Ali, me senti acarinhada pelo lugarejo onde há hotéis, restaurantes, cafés, campings, serviços de aluguel de bicicletas e muito mais. Naquelas ruas rodeadas de barro, vivendo e vendo as casas com parede de adobe e sentindo um aconchego sem igual, pois na noite anterior tínhamos dormido dentro do ônibus, em Antofagasta, porque não encontramos hospedagem, me lembrei do fragmento de um poema de Manoel de Barros, que diz:

"Que a palavra parede não seja símbolo de obstáculos à liberdade
nem de desejos reprimidos
nem de proibições na infância,
etc. (essas coisas que acham
os reveladores de arcanos mentais)
Não.
Parede que me seduz é de tijolo, adobe
preposto ao abdomen de uma casa
Eu tenho gosto rasteiro de
ir por reentrâncias
baixar em rachaduras de parede
por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
Sobre o tijolo ser um lábio
tal um verme que iluminasse"
Do poema Seis ou treze coisas que aprendi sozinho

Um comentário:

  1. "Há um vilarejo ali
    Onde areja um vento bom
    Na varanda, quem descansa
    Vê o horizonte deitar no chão

    Pra acalmar o coração
    Lá o mundo tem razão
    Terra de heróis, lares de mãe
    Paraiso se mudou para lá

    Por cima das casas, cal
    Frutas em qualquer quintal
    Peitos fartos, filhos fortes
    Sonho semeando o mundo real

    Toda gente cabe lá
    Palestina, Shangri-lá
    Vem andar e voa
    Vem andar e voa
    Vem andar e voa

    Lá o tempo espera
    Lá é primavera
    Portas e janelas ficam sempre abertas
    Pra sorte entrar

    Em todas as mesas, pão
    Flores enfeitando
    Os caminhos, os vestidos, os destinos
    E essa canção

    Tem um verdadeiro amor
    Para quando você for"

    Você está fazendo uma viagem transformadora! Estou bastante emocionada por vc e tentando imaginar cada lugar, atmosfera...

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